domingo, 26 de dezembro de 2010

LEMBRANÇAS MINHAS...




HOMENAGEM JPS

AMIGOS PARA SEMPRE - ONTEM HOJE

ESTRADA TERRA BOA - 03 KM DE CIANORTE - MINHA PRIMEIRA COLHEITA EM 1997


Em 1951, chegava em São Pedro do Ivaí, área rural chamada de Gleba Pombal, minha família. Até então constituída de 04 irmãs:  Maria; Inocência; Leonor e Laura, e dois irmãos:  Eduardo e José, (eu).
Meus pais:  Alfredo e Laurita, deixavam definitivamente minha cidade natal, Brasópolis/Mg., onde em 11/08/1950 vim ao mundo.  Minha avó Maria  contava-me,  muitas coisas:  casou-se aos 16 anos com Francisco Brazilino de Paula Cândido, quando ele já tinha 60 anos e era viúvo.  Não o conheci, era meio irmão do presidente Venceslau Braz, cuja família o criou. Com tanto preconceito dominante, jamais meu avô seria reconhecido como filho adotivo...

À beira da estrada, entre matas, meu pai, com pouca economia que tinha, abriu uma venda, e os poucos fregueses lhe perguntavam:  - "Seu" Alfredo, o senhor vai vender pinga para as Onças?  Nossa vida ali, estava apenas começando...
Em 1954, nasce mais uma irmâ:  Vonilda.  Ela chorava muito, apesar da parteira dizer que nada de anormal tinha ela.  Com apenas 04 anos,  lembro-me muito bem,  quando minha mãe, sentada à beira da cama, segurando uma  tijela de canja de galinha,  com uma colher punha em minha boca.
À medida que eu crescia, observava o pequeno mundo ao meu redor,  e o que ele tinha para oferecer:  quase nada, fazíamos nossas necessidades fisiológicas, atrás de moitas de café, não tínhamos nem mesmo aquilo que hoje chamam de mictório ecológico, desses que vemos em parques de exposições e praias. Se bem que hoje, são de plásticos e removíveis, naquele tempo quando tinha, eram de madeira ruim e fediam muito, mesmo lavando diariamente, porqe permaneciam no mesmo lugar durante anos.  À noite, usávamos o pinico.  Muitas vezes,  no meio da noite escura,  fazendo xixi,  molhava meus pés com urina comunitária que transbordava,  até mesmo quando era puxado de debaixo da cama.

Nossa moradia ficava num topo de morro,  não havia água,  e nem como furar poço, entre lajes de pedra. Para o sustento diário, minhas irmãs buscavam o precioso líquido, de uma mina que havia na ribanceira abaixo. Subiam com latas pesadas no ombro,  ou na cabeça, por mais de 200 metros  ladeira acima, diariamente. Minha mãe me dava banho, dentro de uma bacia, com o fundo pregado em madeira, e à medida que me esfregava com sabão, a água contida ali diminuia,  pois vazava através da madeira encharcada.

Eu, com 07 anos, meu irmão Eduardo com 09,  não íamos à Escola,  íamos à roça ajudar nosso pai. Antes do sol nascer,  lá éstavamos com o corpo inclinado,  e as mãos quase rente ao chão gelado e orvalhado de geadas,  puxando as duras ramas de feijão.  Quando víamos os primeiros raios do sol despontando,  erguíamos nossas mãos congeladas  para o céu,  em direção ao Sol,  para ao menos um pouquinho aquecê-las,  sob o olhar ameaçador de meu pai.  Muito enérgico, espancava-nos por qualquer coisa que desse errado.  Uma tarde, ensacando feijão, a Vonilda, tão pequenina e eu, segurávamos a boca da saca, quando dela, suas pequeninas mãos escaparam,  imediatamente senti nos pés, a urina que escorria ante o medo da surra eminente.
Em 1957,  nasce outro irmão:  Heitor.  Calmo, sem muito  choro,  e mais uma vez lá estava eu, ao lado da minha mãe provando sua deliciosa canja de galinha. Fazíamos tambem muitas artes.  Ao redor da venda, muitas bitucas de cigarro eram jogadas. Uma tarde, nesse dia não fui ao trabalho, meio adoentado, estava eu com uma dessas bitucas acesas na boca, quando aparece meu pai, com uma rapidez incrível, toma de minhas mãos e esfrega violentamente em meus lábios. Queimou e doeu tanto que nunca mais colocaria cigarro na boca, pelo menos eu pensava. Alerta para os pais:  violência; espancamento e castigo não educa. Aprendi fumar aos 17 anos e ainda não parei.

Após o nascimento de meu irmão Heitor,  naquele mesmo ano, casa-se minha irmã Maria,  e no ano seguinte,  minha irmã Inocência. 
Numa bela tarde de 1959,  brincava ao lado de meu irmão Eduardo, quando ele me disse:  - Zezinho, nós vamos embora daqui,  ouvi o pai dizendo... Vamos para um lugar perto do céu,  e esse lugar, chama-se Cianorte.  Essa revelação, criou em mim,  uma expectativa e angústia muito grande:  queria logo conhecer esse lugar maravilhoso, e a palavra Céu,  me fez lembrar que um certo dia, quase estive lá. Foi quando, ao redor de uma cisterna aberta, sem nenhuma proteção, em volta dela eu brincava com os sapos,  mantendo a cabeça inclinada para a água. De repente, me vi dentro dela, com as mãos arranhando os tijolos, que a circundavam,  A  boca sangrando e alguns dentes arrebentados, gritei por socorro, mas meu irmão Eduardo,  não tinha força suficiente para me puxar. Minhas forças estavam no fim, quando minha irmã Maria,  que estava por perto, escutou meus gritos e chegou a tempo de me salvar.

A vontade de ir logo para Cianorte,  era grande,  mesmo sabendo que deixaria alí,  muitas alegrias,  como a de ver e ouvir todos os domingos, os irmãos Zezinho e Lia, tocarem violão,  e cantarem as melhores musicas sertanejas,  principalmente as da dupla, Tonico e Tinoco.
O esperado dia chegou, era setembro de 1959.  De madrugada, ainda escura, num pequeno caminhão Chevrolet Brasil, nós e nossa pequena mudança,  embaixo da lona,  partíamos para Cianorte,  levando também a mudança e a família do Sr Antonio Rodrigues,  parceiro de meu pai, na dificil tarefa de derrubar a mata e plantar. 

Chegando nas vizinhanças de Vidigal,  no sítio de um amigo, Sr. Jose Lindolfo de Oliveira, deixamos de forma provisória,  a mudança do futuro parceiro agricola do meu pai.  A tarde estava se pondo, quando passamos pela última curva, no meio da mata, avistando de longe a principal Avenida da cidade, com muitas casas e salões comerciais.  Chegando ao bosque, dava a impressão que a cidade acabava ali, mas era apenas o começo. Contornamos e vimos a velha e maravilhosa Igreja Matriz.
Rapidamente,  atravessamos o centro da cidade,  e fomos parar alí na Av Maranhão, esquina com Av América,  num salão de madeira,  que meu pai havia alugado do Sr Mario Misuta,  onde ficaríamos por alguns meses,   somente para pernoite, não havia como cozinhar.  Jamais podia imaginar que logo abaixo, na esquina com a Av rio Branco,  morava a menina dos meus sonhos, Janina Gwadera,  meu amor platônico. A gente  cria isso na adoloescência, eu criei na infância mesmo.  Não demorou muito para conhecê-la.

Ao pisar na areia branquinha, nunca tinha visto antes, me deu uma vontade enorme de caminhar para os quatros cantos da cidade, Era macia, parecia pisar em veludo, quando meus pés descalços pisava o tempo todo,  nos pedregulhos da gleba Pombal. Uma nova etapa estava começando....

No dia seguinte bem cedo, fomos ao local onde passaríamos nossos dias.  Descemos pela Av Maranhão até a Av Amazonas,  e por ela,  chegamos até a rua Xingu,  onde caminhamos até à rua Juruá,  bem próximo do futuro Albergue Noturno,  na  residência do primo Jose Teodoro,  que nos acolheu por alguns meses.  Minha mãe fazia nossas refeições, num puxadinho no fundo do quintal.  Anos depois, meu amigo Jorge Lourençone,  tambem veio morar próximo desse local,  quando nós,  já havíamos mudado dali.

Meu irmão Eduardo e eu,  rapidamente fizemos amizade com os primos, Ovídio, Orlando e Aparecido. Nossa diversão diária era jogar bolinhas de gude.  Na casa ao lado, conheci o Jossi, que me ensinou jogar Damas . Aprendi tanto, que num passado recente,  fui campeão por duas vezes, nos jogos da FENAE.
O Jossi tinha duas lindas irmãs: Isolete e Janete.  O tempo passou, e nunca mais vi eles,  mas sinto saudades...

O trabalho na roça diminuiu,  meu pai agora tinha um parceiro,  mas mesmo assim,  meu irmão e eu,  levávamos o almoço dele, caminhando por 07 kilometros, atravessando muitas matas,  até chegar no sítio do Pão de Açucar.  As vezes ficávamos lá,  as vezes voltávamos durante o dia. E assim,  fizemos essa rotina,  por mais de um ano. 
Em 1961,  casou-se minha irmã Leonor,  tambem nasceu meu irmão caçula,  o Leonino,  já não tinha mais canja de galinha.  Meu pai,  comprou uma pequena casa de 02 quartos,  morávamos em 08 pessoas:  Laura; Eduardo; Vonilda; Heitor; Leonino e eu.  Não tínhamos banheiro,  nem chuveiro, nem mesmo aquele do balde pendurado.  No fundo do quintal,  um mictório que dispensava comentários.  O fogão era à lenha,  do tipo caipira.  Nossa alimentação,  feijão com Arroz,  e uma vez por semana,  uma pequena porção de mistura.  Aos domingos, minha mãe me dava uns trocos, ia até o açougue do Lazinho na Av Amazonas, onde comprava 300 gramas de carne moida,  era nossa mistura.  Enquanto ia e vinha do açougue,  passava por várias casas com rádio ligado,  meu coração disparava só de ouvir a Janina cantar.

Em  1960, iniciava meus estudos, primeiro ano primário...

GRUPO ESCOLAR ITACELINA BITTENCOURT
Eu achava o máximo! Tinha banheiros cheirosos, pias, bebedouros. Neste ano, duas professoras:  Dna Léia e  Dona Maria Aparecida Costa, da Farmácia Costa da vila Operária. Dna Luizinha, sua mãe, era nossa diretora,  seu irmão, Marcos Aurelio Costa, é meu vizinho de apartamento, hoje em Maringa.  Ainda me lembro de alguns colegas desse ano:  Jurandir Gonçalves; Dorival Volpato; Jose Carlos,  que se tornou padre;  Dario Paes e o Quito, que recentemente,  tive o prazer de visitá-lo na Florida,  onde reside atualmente.

Depois da aula, tínhamos dois objetivos:  primeiro, nadar nos tanques das matas;  segundo, jogar peladas nos campinhos de datas vazias.  Nosso primeiro tanque de nadar era na mata,  onde posteriormente,  ficou conhecido como o buraco da Mãe Biela,  devido a grande erosão que ali se formou.  Na volta, sempre colhiamos a deliciosa gabiroba e jaboticabas.  Quando esse tanque não servia mais para nadar,  descobrimos outro,  o tanque do Naboro.  Ficava nos fundos da  nova fábrica da Gold Scrin,  hoje dominada por choppings.
Quando voltávamos do Naboro,  passávamos pela fábrica de doces dos Rossetos, Dinor, padrinho de casamento de minha esposa,  e Darci,  para comprar passoquinhas.  Quando o Naboro acabou-se, migramos para o Cabeleira,  na estrada das bicas,  e para o Fantasminha,  hoje,  próximo do condominio Martelli.  A partir dái, eu já não frequentava mais. 

Minha infância não se resumia a tanques e peladas.  Descendo pela Av Maranhão,  até a divisa com a mata da Mãe Biela,  no canto,  havia uma platação de tomates,  cultivada pela Dna Rosa,  japonesa.  Ela tinha uma pequena frota de monaretas,  e cada qual, com uma cesta amarrada com borrachas na garupa.  Minha alegria, era vender tomates à domicilio, embalados em saquinhas de papel.  Acho que foi a primeira vez que comi tomates cultivados.  Posteriormente,  Dna Rosa abriu uma quitanda na Av amazonas, sendo muito bem sucedida.
 Na rua Corumbá, quase ao lado da Farmácia Costa, havia uma padaria, onde meu irmão, eu,  e alguns garotos vizinhos,  íamos de madrugada, buscar pães em cesta,  para vender na periferia da vila.  Em nossa rua,  havia uma menina muito bonita,  Claudete Pita,  filha do dono da Serraria Nascimento.  Ela ficava à espera dos pâes, então corríamos,  para ser o primeiro a chegar... Tambem gostava muito de colher algodão, e sempre que podia,  lá estava eu no meio do algodoal.  Afinal, havia várias maneiras de conseguir dinheiro para as Matinêes, Circos, Parques de Diversões e até mesmo,  ver o time do CAFE jogar. Tambem fui engraxate, vendedor de passoquinhas, que minha avó Maria fazia, e um excelente escolhedor de cafe, em Maquinas e Salões,  e as vezes,  em casa mesmo, ajudando minha mãe.  Ganhávamos por isso,  bons trocados.

Em 1963, casa-se minha irmã Laura, de uma forma nada convencional.  Ela fugira com um rapaz,  bem mais velho, abalando as estruturas de meu pai,  que durante muito anos  não falava mais com ela.  O casamento pouco durou,  e a Laura tomou rumo na vida.  Depois de muito sofrimento,  foi embora para São Paulo, onde,  com muita luta e dedicação, refez sua vida.  Vida que nos dá lição, porque foi a Laura,  que quando meu pai,  já muito enfermo,  voltou exclusivamente para cuidar dele e da minha mãe.  Em 2002,  dois anos após a morte de meu pai em 2000,   minha mãe em 1998, a Laura tambem se foi,  vitima de um ataque cardíaco, não antes de cumprir sua missão.
Sentia muita falta da Laura.  Ela tinha um caderninho, onde a Hilda de Souza,  escrevia  lindas canções da época,    cantadas pela Janina, Catarina Maframaia, Melita rodrigues,  e pela própria Hilda.  Me lembro de algumas,  como Bat Masterson,  Banho de Lua, e Estúpido Cúpido.

Nunca fui um menino briguento, mas fazia muitas artes, como "varar" o Circo e o Cinema, e a maior delas,  foi quando achei,  na beira do muro que protegia o Cine Cianorte,  vários blocos de ingressos,  posto alí para queimar,  mas a chuva foi generosa comigo.  Então,  levei-os para casa e os escondi muito bem. Durante muito tempo, entrava de grátis,  e ainda presenteava alguns amigos.  Porém, uma tarde, "Seo" Adélio,  agarrou minhas mãos, prometendo me entregar ao Juiz de Menor.  Senti uma vergonha enorme, agarrado ao lado do baleiro, com  todos me olhando. No primeiro descuido, safei-me e saí correndo,  indo parar numa data vazia de capins altos,  que tinha ao lado da Gold Scrin.  Só saí de lá ao anoitecer...

Voltando aos estudos,  iniciei o primário muito tarde,  dez anos eu tinha.  Mas já sabia ler e escrever,  então não tive dificuldades,  e tirava sempre boas notas,  talvez por isso,  Dna Suzana,  no segundo ano, não me obrigou usar a mão direita,  sempre fui canhoto.  No quarto ano,  me lembro muito bem,  a professora pediu-me para que deixasse o Helio Bandeira, sentar ao meu lado,  no dia da prova final.  O Helio era  entregadador de leite na cidade,  minha mãe também comprava dele.  Não me lembro se ele passou de ano, mas eu concluí esse ano com a melhor nota da rede Estadual,  e só tomei conhecimento disso,  no dia em que, o Sr. Albino Turbay,  foi pessoalmente em minha casa,  convidar meus pais e eu,  para um merecido jantar de Honra ao Merito,  no lendário Clube dos Vinte e Um.  Nesse dia, já móravamos na Av goiás, numa casa com salão, recem comprada por meu pai.  Já tínhamos pia,  torneiras,  banheiro com chuveiro, menos patente,  e a energia elétrica,  estava a caminho...

Em 1964,  entrava para o Ginásio.  Minha expectativa era muito grande,  queria me aproximar da Janina Gwadera.  Outras meninas também estavam nas minhas expectativas, Marina Tomaroli, Maria aparecida Parisoto,  Fátima Manfrinato  e Terezinha Códolo.  Esta última, não seria possível,  a menos que eu reprovasse, ela estava uma série atrás.
Nessa época,  eu frequentava as quermesses,  todos os sábados e domingos,  e foi lá que conheci a Terezinha,  mas nunca tive coragem de abordá-la.  A Cidinha Parisoto até ligou prá mim,  quando eu trabalhava na alfaiataria.  Muito tímido, até perdi a fala.   A Fátima também estava uma série atrás,  a Marina,  tive e tenho por ela,  um carinho enorme,  estudamos dois ou tres anos juntos,  nunca esqueço o dia que saímos de férias, ela no portão, ao se despedir,  me deu um beijo carinhoso no rosto,  e me chamou de paixão.  Quase desmaio alí, sem ao menos retribuir-lhe o doce beijo.  A Janina, raras foi as vezes que me aproximei dela, embora eu quisesse muito. Amor platônico exige anonimato,  se não não é amor platônico.
A foto abaixo, que a Marina me deu, guardei-a por muitos e muitos anos, até que um dia, sumiu misteriosamente de meus guardados. Acho que foi minha esposa, por ciumes...


OTÍLIA - JANINA - MARINA  - SAUDADES...
Em 1967, entrava para o Científico,  primeira turma de Segundo Grau em Cianorte.  A direção do Velho Ginásio emprestou algumas salas do Colégio privado Tiradentes.  Entrei com muita determinação,  logo no início,  a professora de português,  Dna Maria Tereza,  que se casou com o Dr. Freire, cirurgião dentista, deu-nos a difícil tarefa de ler um livro e comentá-lo,  em trabalho escrito.  Era um romance,  enquanto a maioria dos alunos preocupou-se apenas com o enredo,  opinando se era bom ou ruim,  fiz uma análise completa,  identificando a mensagem que o autor queria passar.  A professora comentou meu trabalho em classe,  atribuindo-me,  uma excelente nota.  Eu o teria  guardado com carinho,  não fosse a Flora Lemos tê-lo emprestado e nunca mais devolvido.
 A melhor lembrança dessa época chama-se:  Maria Marta dos Santos. 
Filha do então prefeito de Jussara, vinha todos os dias, de ônibus, descendo próximo ao Bar que meu pai havia montado,  na Av Brasil,  ao lado da Telepar e Rodoviária.  Até o Colégio, íamos e voltávamos juntos,  as vezes ficávamos conversando à espera de seu embarque.  Trazia, em suas orelhas,  um lindo par de brincos azuis,  achava lindo.  Hoje, reside  em  Maringá,  as vezes nos encontramos,  só não foi ao reencontro,  por causa da depressão causada por problemas familiares.

Em 1968,  por três meses,  fui professor da Escola Rural do Pão de Açucar,  onde meu irmão Eduardo lecionava.  Ele,  recém-casado,  foi ameaçado de morte pelo sogro,  após uma forte discução,  então pediu à Dna Maria Mafra,  diretora,  que o subistituisse temporariamente.  Era o curso de Admissão,  e dois alunos se destacaram:  Nelson Magron e Luiz Gavioli.

De manhã, trabalhava no Bar, na tarde estudava, e após o término, montava uma bicicleta, percorria 12 kilometros até chegar à Escola. Por volta das 23:00hs., me dirigia para um local próximo dali, onde pernoitava, na casa de meus melhores amigos, família Gonçalves Rosa.  Dona Maria, tão boa como minha própria mãe, deixava servido na mesa, uma grande fatia de pão caseiro, e no canto do fogão caipira, ainda quente, uma garrafa de café e uma caneca de leite.
Essa família, muito nos ajudou, desde os tempos do Pombal, onde também moravam. Muitas vezes, sem nada para comer, a não ser palmito nativo cozido sem sal,  Dna Maria,  matava um frango e generosamente entregava à minha mãe.  Com certeza,  no Céu é a preferida de Deus,  ela nos deixou precocemente...
Não posso esquecer, seus dois filhos: Natalino e Arvelino, amigos e companheiros, sempre ao meu lado, e ao lado do meu irmão Eduardo. Vinham estudar na cidade, e na volta, as vezes, quase noite, voltávamos com eles para o sítio e lá pernoitávamos. Nos  fins de semana, às vezes, eles também pernoitavam em nossa casa.


NATALINO E ARVELINO (saudades dos dias que aqui passei...)

Em 1969,  meu pai comprou um Fusca  novo,  e num domingo de manhã,  os amigos Jerson Joaquim da Silva e Arnaldo Piloto,  pediu-lhe que nos levassem à Paranavaí,  para ver o CAFE jogar,  eu seria o motorista.  Meu pai,  não confiando,  indicou o Moacir,  nosso ajudante no Bar,  para nos levar.  No caminho, o Moacir me passou o volante,  não antes de bater o carro,  causando grande estrago na lataria. Meu pai nunca acreditou que o causador do estrago fosse o Moacir,  apesar da confirmação do Jerson e do Arnaldo.

Em novembro de 1969,  meu pai,  trazido de Campo Mourão,  estacionava   frente ao Bar,  um Fusca branco, zero kilômetro, já em meu nome. O dele era azul.

VIAGEM À FOZ - 1969

Planejava um Fusca 67, que meu dinheiro alcançava, mas ele não concordava, adiantando-me um empréstimo de CR$ 5,000,00. Imaginem minha alegria.....

 Durante um ano, esse Fusca me deu muitas emoções e alegrias,  até porque,  já estava namorando. Marilú, era o nome dela.  Muito carinhosa,  emotiva,  mas não durou muito.  Então conheci, Maria Ivone de Lima, nada sério,  apenas gostávamos de ficar juntos.  Era um namoro bastante informal,  as vezes ia visità-la na Venda do Chicão,  como era chamada,  estrada Terra Boa,  proximo ao Rio Ligeiro.  Seu pai,  tinha uma Venda lá.  Éramos muitos românticos, talvez por isso, nosso namoro tenha ficado apenas na informalidade.
Tenho pela Ivone, muito carinho e consideração, e a admiro muito, pela forma com que construiu sua vida. Hoje, professora muito competente, talvez aposentada, mora em Terra boa,  onde sua irmã Vera, é uma excelente Prefeita.  Naquela época,  a Vera segurava a lanterninha...

Durante dois anos, muitas festas, muitas alegrias, até conhecer a Vanda, minha esposa.  Havia  nela, algo  que me prendia muito.  Não sei se foi sua inocência, seu jeito meigo no olhar,  seu sorriso,  seu carinho peculiar,  seu perfume.  O fato é que me apaixonei.  Em junho de 1971, me casava com ela.
Vendi meu Fusca,  para o Sr Sebastião de Oliveira, avô da Marjorie Estiano,  que era taxista no ponto frente ao Bar.  Precisava pagar meu pai.  Com o pouco dinheiro que me restava,  sem nenhuma estrutura,  apenas apaixonado,  fomos morar num salão de meu pai , assim não pagaríamos aluguel. Um começo muito difícil,  mas compensava nossa felicidade.
Interrompi os estudos,  tivemos que fechar o Bar, pois o movimento caiu muito,  depois que a nova Rodoviária fora inaugurada.
Em 1973, abri um mercadinho, Av América, frente a Estação Ferroviaria e assim fomos sobrevivendo...

Meu primeiro filho, Pierre,  havia nascido, e já estava com quase dois anos.  Em 1974,  nasce meu segundo filho, Fábio.  Minha responsabilidade aumentou e aumentou tambem a dificuldade de criá-los.
MEUS FILHOS: PIERRE E FÁBIO - TEMPOS DIFÍCEIS


À medida que o tempo passava, me convencia não ter nascido para comerciante.  Me entristecia muito, vendo pessoas muito pobres,  comprando quase nada,  para seus sustentos.  Pequenas coisas,  as vezes,  eu nem cobrava.
Em 1977,  uma esperança.  A Caixa Econômica,  abria concurso público à nível nacional.  Confiante,  já havia sido aprovado na Copel em 1970,  quando a euforia daquele momento,  me fez recusar o convite de ir trabalhar em Umuarama.  Fiz minha inscrição,  comprei uma apostila na própria Caixa,  e nos intervalos,  no balcão eu estudava.  O fato de ter retornado aos estudos, para conclusão do  segundo grau,  neste ano,  tambem ajudava.

No dia 01 de Junho de 1977,  de madrugada,  nascia minha filha Patrícia,  e de madrugada desse mesmo dia,  eu me dirigia à Maringá,  para prestar o Concurso.
Aprovado,  tracei meus planos.  Vendi o Mercadinho,  mudei-me para Maringá no final de 1977,  matriculei-me no curso de Administração da UEM,  após ter sido aprovado no vestibular.
A UEM não era totalmente pública,  e para custear meus gastos,  enquanto a Caixa não me chamava,  fiz um concurso rápido nos correios,  indo trabalhar de carteiro.

Em 12 de fevereiro de 1979,  ingressava na Caixa.   Meu salário de CR$ 1,400,00 nos correios,  foi para CR$ 8.000,00 na Caixa,  com mais duas gratificações semestrais.  Foi o começo da minha estabilidade financeira.
Tres meses depois, em maio,  nascia minha filha caçula, Caroline.  Em 1982,  um convite para assumir função de Caixa Executivo,  na cidade de Formosa do Oeste.  Aceitei, porém tive que abandonar o último semestre de Administração,  e nunca mais concluí.
Alguma coisa em Formosa do Oeste me atraía,  alem da vantagem financeira que teria.  Estando lá, descobri:  era a Agricultura.
AS DUAS PEQUENAS: FILHAS, PATRICIA E CAROLINE

Não demorou muito, comprei uma chácara de dois alqueires, plantei cafe,  e me divertia muito,  indo todas as tardes ver as galinhas, porcos e até uma vaca com  um Bizerrinho,  que minha filha Caroline, o chamava de Jullinho.
Em 1986, com as consequencias do plano Cruzado,  a Caixa fechava  a Agencia de Formosa do Oeste, vindo eu,  trabalhar em Engenheiro Beltrão, onde fiquei até 1990.
Longe da chácara, vendi-a, mas não descartei a possibilidade,  de uma nova aquisição.  Com a necessidade de melhores estudos para os filhos,  pedi dispensa da função, mudei-me para Maringá,  com o intuito de aqui ficar definitivamente.
Para compensar a perda da função, fui trabalhar no período noturno,  com direito a adicional.  Durante sete  anos,  planejei comprar um sítio.  Acho que queria descobrir porque,  no começo da minha vida,  era tão sofrido trabalhar na roça.  Será que era mesmo?  Bem, teria que descobrir...

Em 1997,  comprei uma bela chácara em Cianorte,  e comecei a trabalhar ela.  Em 2000,  com o falecimento de meus pais,  me sobra de herança,  parte do sítio mais bonito que ele tinha.  Vendi a chácara e comprei a parte de meus irmãos.  O sítio valia a pena,  era realmente meu sonho ruralista.

MINHA CHACARA EM FORMOSA DO OESTE
MINHA CASA NA CHACARA DE CIANORTE
Sábados, Domingos e Feríados, lá estava eu,  no Sítio Dna Laurita,  o nome de minha querida mãezinha,  que tanto gostava dele,  e assim o batizei.  O sítio, de seis alqueires, largo, tinha dois carreadores de acesso,  e mais de um alqueire de mata virgem . Na mata,  um riacho de águas cristalinas. O murmúrio de suas águas, o canto dos pássaros,  e o ruído dos bichos,  quebrava a monotonia do lugar, em tom harmonioso.  Um pedacinho de céu.

O João,  meu parceiro, veio de Curitiba, atraído pela beleza e fertilidade do solo, e pela possibilidade de proporcionar à famíla, melhores condições de sobrevivência. Assim, nós começamos,  fazendo uma pequena barragem,  instalando dois rodões d'água, suficiente para mandar água,  a  qualquer canto do sítio.  Pelos carreadores,  a cada 50 metros,  instalamos torneiras.  Construimos  um tanque para peixes,  cercamos o pastado,  e plantamos várias árvores frútiferas,  inclusive cacau e graviola.  Tínhamos uma bela horta,  e de tudo,  nela cultívávamos,  inclusive Vick Vaporube,  que eu trouxe do Amazonas,  uma planta semelhante ao Gengibre.  De gado, várias cabeças,  incluindo porcos,  galinhas,  peixes frescos,  e  ovos em abundância.
MEU NETO GIORDANNI

ELE ADORAVA A MALHADA
No tanque,  criávamos  saborosas Tilápias.  Uma vez levei alevinos de Pintados,  entre eles,  um sobressaiu.   Já com quase dois quilos, saiu sorreteiramente do tanque,  arrastando-se em direção à mata,  por uns quinze metros,  quando o João,  surpreso o avistou.  Era na verdade,  um Bagre Africano.
Meu parceiro, excelente agricultor,  plantava tudo:  Cafe; Arroz; Milho; Feijão; Mandioca; Cana de Açucar; Abóboras; Melancias; Pepinos; Quiabos; Tomates caipiras; Melões; Etc....

Vivi nesse paraíso durante seis anos.  Em 2006,  meu parceiro foi-se  embora para Minas Gerais.  Enfim, tinha realizado meu sonho,  que um dia,  lá no começo,  com as mãos congeladas,  erguidas para o Sol , parecia impossível.  
Acabava aqui, mais uma etapa da minha travessia....

Quando,  no começo da adolescencia,  frequentando matinêes no Cine Cianorte,  um sonho despertava.  Queria um dia,  conhecer Disneylândia.  Nunca pude levar meus filhos,  mas agora,  senti a possibilidade de levar meus netos,  não mais para a Disneylândia,  mas para um lugar bonito daquele país.  Então veio a oportunidade,  uma vez que minha filha Patrícia,  estava morando lá.  Morava na Califórnia,  e trabalhava num Risort,  em Squaw Walley.
Em Abril de 2008,  combinamos um período de 15 dias,  e lá aterrizamos.  Eu, minha esposa  e  meus dois netos:  Junior com 12 anos e Giordanni com 06 anos.
MENSAGEM MENTIROSA PARA OS PAIS NO BRASIL  
Locamos uma Van e partimos,  não antes de conhecer as belas paisagens de Lake Tahoe,  com suas montanhas rodeadas de pinheiros e cobertas de neve.  Primeira parada,  San francisco.  Visitamos Golden Gate, Alcatraz, o Pier,  e a famosa rua,  Lombard Street.
 Caia a tarde,  saímos de San Francisco,  em direção à Santa Cruz,  pela magnífica rodovia Litorânea.
Ao longo da rodovia,  margeando o Pacífico,  minha filha Patrícia,  jurava ter visto uma Baleia. O Pedro estacionou a Van, descemos e fomos ver:  era uma enorme pedra,  que parecia mover, ante o agito das ondas.  Junior e Danni não se conteram,  riram muito

CASA TORTA EM SANTA CRUZ
Já tarde,  pernoitamos em Santa Cruz.  De manhã fomos conhecer a principal atração turística da cidade,  a casa torta.  Almoçamos,  e pé na estrada...
Depois de passarmos por várias paisagens, com chalés e pousadas,  à beira da rodovia,  chegamos em Santa Bárbara,  onde passamos o dia visitando vários lugares bonitos,  e parques de diversões , alegria extrema dos netos.
Exaustos,  já de noite,  jantamos e fomos dormir.  Para o dia seguinte,  um longo percurso nos esperava. Saímos cedo, por volta do meio dia  atravessamos Los Angeles,  mas não paramos.  Nossa meta era San Diego.  Sea World e Cidade dos Legos nos esperava,  sonho dos netos...
Já era noite,  quando chegamos.  Após um breve descanso , a Patrícia sugeiru jantarmos numa churrascaria brasileira.  Eu achei ótimo,  já não aguentava mais comida americana e mexicana.  Não foi difícil achar a melhor churrascaria brasileira em San Diego,  afinal o Pedro e a Patricia,  já conheciam a cidade.  Era a segunda vez que iam lá.
Comida excelente,  após nos fartarmos , um bolo de aniversário,  com 06 velinhas,  era posto sobre a mesa. Por um momento,  ficamos todos em silêncio, olhando para o Giordanni.  Ele, muito surpreso,  quebrou o silêncio:
- Uée!!  Como é que a garçonete sabia,  que hoje é meu aniversário?!  Confesso que,  muito emocionado,  quase chorei, olhando o brilho dos olhinhos dele.  Esse momento,  vou guardar para sempre.  Era 22 de abril de 2008.
A seguir,  não vou traduzir com palavras,  a alegria deles, as fotos dirão...
LOMBARD STREET SAN FRANCISCO

COSTA DO PACÍFICO CALIFORNIA

CIDADE DOS LEGOS SAN DIEGO

SEA WORLD SAN DIEGO
CARROSSEL EM SANTA BARBARA

PIER EM SAN FRANCISCO

ILHA DE ALCATRAZ AO FUNDO
RISORT EM SQUAW WALLEY

Após 04 dias, nosso passeio chegava ao fim. De volta para Squaw Walley, peguei o volante. Não ia deixar de experimentar  dirigir nas magníficas rodovias americanas. Entre ida e volta, percorremos quase 3.000 kilometros, seis pistas e nenhum pedágio, com velocidade permitida de 137 km/h. 
Em Reno, fomos às compras, e nesse dia, dirigindo a velha caminhoneta do Pedro, fui parado por estar em baixa velocidade. O policial aplicou-me uma multa, pois estava sem meu Passaporte. Alguns dias depois, a Patrícia foi à Corte, e fui perdoado por ser primário. Imaginem se fosse no Brasil!...

TRAVESSIA DE LOS ANGELES


Tem um ditado que diz: Depois da tempestade vem a Bonança. Não que eu tivesse tempestades, mas também, não tive lá grandes emoções, como quando, a partir da compra do sítio. Desde então, venho vivenciando, em escala crescente, fortes emoções.
E, a maior delas, sem dúvida, foi o reencontro. Eu tinha muita saudade, em particular, de duas meninas, do tempo da infância e pré-adolescência: Janina e Marina. Jamais pude imaginar, que um dia tornaria a vê-las. até porque, 40 anos se passaram, e cada um de nós caminhou pelo próprio destino.
Acho até que, não fosse essa obssessão, em procurá-las, o reencontro de 200 pessoas envolvidas com o mesmo objetivo, não teria acontecido. Sou grato eternamente à minha grande amiga, que hoje a chamo de amiga-irmã, Cidinha loreto Câmara. Sem ela dificilmente chegaria a Janina e a Marina. Determinada, assim como eu, não mediu esforços em organizar, procurar, incentivar e agregar nossos amigos de outrora.
E assim aconteceu, em 12 de Janeiro de 2008, no restaurante Devons em Curitiba. A Janina veio de Guarani das Missões, onde morava. A Marina já estava morando em  Curitiba. Com ela tive o maior contato, passamos praticamente um dia, juntos. No reencontro em Cianorte, ela tambem foi. Resgatamos uma linda amizade, interrompida na pré-adolescência, e que agora será perpétua.
Pouco pude falar com a Janina, dada a euforia daquele momento mágico do reencontro em Curitiba. Eu estava perplexo, diante dela. Agora que mora em Curitiba, penso em fazer uma visita a ela, e pelo menos um dia, ficar em sua companhia....
Deus abençõe vocês duas!!!
COM JANINA (JANTAR NO RESTAURANTE DEVONS) 12/01/2008

COM MARINA (ALMOÇO NO APTO DO CASAL DE AMIGOS  CIDINHA E SILVIANO) 12/01/2008

Todos nós temos um caminho,  traçado por Deus.  Agradeço muito à Ele,  por ter-me permitido,  chegar até aqui,  sem muitas tribulações.  Alguns obstáculos ocorreram,  como aquele da cisterna,  e de outra feita,  um assalto com risco de vida,  quando trabalhava no Bar.  Deus estava lá me protegendo....
Permitiu-me também,  rever amigos e amigas de outrora,  de uma época,  em que se vivia alimentado por fortes emoções,  e poucas razões:  nossa adolesência.
Posso dizer, que me sinto realizado, embora sabendo que muitos obstáculos,  ainda poderão vir.  Agradeço imensamente,  minha esposa e companheira Vanda,  que sob  proteção Divina,  soube criar e  educar nossos filhos com muito amor e carinho.
 Agradeço imensamente meus filhos,  por serem honrados,  determinados,  por criarem meus netos com muito amor e carinho,  por serem bons filhos,  e por não terem tropeçados pelo caminho....
No mundo,  nada se compara à alegria e felicidade de ter filhos, que se renovam intensamente,  quando se tem netos,  E,  é assim que vamos vivendo....


J O S E  P A U L A  S I L V A
Maringá, 01 de Janeiro de 2011 

CAROLINE E GEDEONES CASAMENTO EM 1995

PIERRE E MARIA ELENA CASAMENTO EM 2002


FABIO E KELLY CASAMENTO EM 2004
PATRICIA E PEDRO CASAMENTO EM 2009

domingo, 12 de dezembro de 2010

ATOILI - O CÉU ESTÁ MAIS FELIZ

Em 2008, quando ainda estava garimpando as jóias que o tempo levou, através da poeira que pairava sobre a bela Cianorte, até então pouco mais de 06 tinha sido encontradas. A idéia de um reencontro em Curitiba estava apenas começando, quando vejo no Orkut, Atoili Rossi. Adicionei-a e rapidamente veio a resposta: - Tambem vou nesse reencontro! Nesse momento senti um enorme entusiasmo por parte dela, e com o apoio incondicional dela chegamos proximos a quarena. Só faltava marcar a data.

Em 12 de janeiro de 2008, sábado bem de manhã, chegamos praticamente juntos na rodoviaria de Curitiba, à espera da Cidinha que iria nos buscar. Foi a primeira vez que falei com ela frente a frente, muito embora conheci-a quando menina, mas sem nenhum contato pessoal. A partir daí nasceu uma grande amizade e o comprometimento de busca de nossos objetivos. Ficamos no mesmo Hotel que a Cidinha nos tinha reservado. Quando retornamos, ela um pouco mais cedo do que eu, esqueceu seu inseparavel travesseiro que havia levado consigo. Houve tempo, então levei-o para ela até Maringá, onde iria buscá-lo conforme combinamos.

Na segunda-feira, a Atoili veio até minha casa em busca do seu travesseiro, acompanhada da filha Samanta, linda e dócil, seu tesouro. Então ela me contou a importância daquele travesseiro, me deixando muito feliz por te-lo resgatado para ela.

Dias depois, já estávamos nós preparando o novo reencontro que seria realizado em Julho de 2008. Marcamos um sábado, uma reunião em sua casa para tratarmos do assunto. Nesse dia, mais tres grandes amizades: Neuracy Zamberlan; Rosângela Araujo e Carlos Jose Sobota, marido da Atoili, o Mano como nós o chamamos. Já o conhecia tambem, mas sem nenhum contato pessoal anterior. O Mano me surpreendeu e torno-se um amigo extraordinario, constituindo com a Atoili uma linda e amavel familia.

Nesse dia, almoçamos com eles, conversamos muito sobre nossas vidas e delineamos algumas coisas sobre o  novo reencontro que estava por vir, e a partir daí começamos a trabalhar e fazer planos. Sentia o entusiamo da Atoili a todo momento, e toda vez que a lista de presença publicada no blog aumentava, ela me ligava comemorando....

Em fim chegou o grande dia, a Atoili estava tão radiante que me deixou convicto ser um dos dias  mais feliz da vida dela, assim como foi também para mim e creio para todos que estiveram presentes.

Recentemente, já enferma em seu leito, minha amiga-irmã Cidinha Loreto prometeu a ela, tão logo se recuperasse, faríamos um reencontro para ela, tão lindo quanto foi aquele, talvez melhor. Quando a Cidinha me disse por telefone, chorei de emoção, como agora ao escrever estou chorando.... 

Que Deus, agora em sua companhia lhe dê o que de melhor existe, minha querida amiga!!! 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

L E M B R A Z É ...

Bem mais do que você imagina Janina. Bem antes de você me conhecer, eu já a conhecia...
Eu devia ter dez anos e você sete. Em 1960, aos Domingos por volta das dez horas da manhã, na rua de minha casa, onde brincávamos com outras crianças, ouvíamos o cantar de meninos e meninas transmitido pela Radio Porta Voz. Então a Cristina falava assim:  - E com vocês agora...Janina Gwadera!!!!
E as crianças junto a mim diziam: Essa Janina é linda!!!.
No mesmo instante, parava de brincar e prestava mais atenção à música, e a Janina cantava: Que será...será....Cantava outras músicas também, como Filme Triste, mas Que será..será...foi a que mais me marcou.

Desse domingo em diante, quase todos os domingos eu estava lá para ver de perto a menina que todos achavam linda. Eu, a achava mais linda ainda...Posso dizer, que a partir daí nasceu um amor platônico.
Ficava triste e preocupado quando algum domingo ela não comparecia para cantar. 

Um dia, resolvi segui-la para descobrir onde morava, assim quem sabe poderia vê-la mais vezes. Após o Programa na Radio, à uns 50 passos atrás, lá estava eu. Nesse dia, ela parou e entrou numa Selaria, (não era comum aberta aos domingos), mas nesse dia estava. Demorou quase meia hora, depois fiquei sabendo que a Selaria era do pai dela, João Gwadera. Não desanimei, assim que ela retomou seus passos, meio que de longe eu a acompanhava.  Enfim, após quase meia hora de caminhada, a Janina entrou numa casa, claro a sua casa. Era ali na Av Maranhão esquina com a Av Rio Branco.

Eu morava na Vila Operária, e o caminho em direção ao centro da Cidade não era aquele, mas eu, quando ia para o centro, mesmo dando volta, eu passava por ali na esperança de vê-la. A verdade é que nunca a via. Fiz o curso para a primeira comunhão junto com ela, mas nunca tive a coragem de abordá-la e dizer Bom Dia!
Lembro-me um dia, após o término do curso da primeira comunhão, lá no Itacilina Bitencourt, a Janina saiu chorando, então um garoto entre mim e ela, o Dorival Volpato, tirou do bolso um lenço e deu a ela para se enxugar...

Queria tanto falar com ela, mas não tinha coragem, enquanto isso sonhava com ela, pensava nela,,,
Já sabia onde estudava e que estava na mesma serie que eu. Um dia, de manhã, ao passar por um salão comercial de duas portas que tinha ali na praça da rodoviaria, (posteriormente esse salão foi comprado por meu pai que me deu de herança) vi a Janina, ela estudava ali, acho que era na terceira série primaria.
Esperava que um dia fôssemos colegas da mesma classe, sonhava com isso....

Quando eu estava na quarta série primária, soube que a Janina ia ser a Branca De Neve do teatro que estava para se realizar, quem me dera ser o príncipe!

Em 1964 entrei para o ginásio e minhas esperanças de ver a Janina mais de perto aumentaram. Estudávamos no mesmo horário, mas em classe diferentes, confesso que sentia inveja dos colegas da mesma classe dela.
Nas férias deste ano, fui para São Pedro do Ivaí colher cafe no sitio de uma prima de meu pai. De manhã, por voltas das 06:00hs, Dna Nenê, a prima, ligava o rádio para ouvir um programa sertanejo da Radio de Maringá, e numa dessas manhãs, o locutor disse: " E agora, as cartinhas das fãs do Waldemar das Meninas".
- Meu nome é Janina Gwadera, sou teu fã e gostaria de ouvir ...(não me lembro mais o nome da música que a Janina pediu). O fato é que pensei: Se o Waldemar das Meninas souber o quanto a Janina é linda, perderei-a para sempre.

Finalmente, a partir do Terceiro  ano ginasial,  pude estudar na mesma classe da Janina. Muito tímido, quase não conversávamos, apenas cumprimentos. Um dia comprei um bilboquê, (sabia que ela gostava de bilboquê) e antes do inicio da aula dei-o para ela brincar. Enquanto a Janina jogava bilboquê, eu distraidamente ficava admirando-a de bem pertinho, sentia até o cheiro e o sabor do chocolate que acabara de  degustar, tinha vestígios em seus lábios. De repente, entre nós, surgi dona Juvir, a diretora e de supetão arranca das mãos da Janina nosso instrumento de alegria. Perdi o bilboquê, mas ganhei a simpatia da menina mais linda que conheci.

Um dia, ao fazer um trabalho de classe, aula de ciencias, A Janina sentou-se ao meu lado e quando o professour Iraimo adentrou à sala, nos viu juntinhos, disse num tom, talvez irônico, talvez amável:
Esse casal combina. Nunca vou saber o que a Janina sentiu, mas eu me senti como um Rei.

Em 1967, já quase no final do ano, fomos a um piquinique. Domingo, bem de manhã, meu irmão Eduardo e eu compramos mortadela suficiente para 02 pães e um caminhão de carroceria aberta nos levou. Quando vi a presença da Janina, meu coração pulsou mais forte, então fomos naquela carroceria lotada, passamos por Engenheiro Beltrão até chegarmos ao rio da Varzea. A poeira ingerida no trajeto não foi suficiente para tirar nossa alegria. Perto do rio havia uma Venda, onde compramos soda limonada e assim nossa refeição estaria completa. Enquanto alguns assavam salsichas e até mesmo carne, (a comida era individual) meu irmão e eu saboreávamos sanduiche de mortadela. Acho que a partir daí passei a gostar muito de mortadela, muito embora quase não se acha mais mortadela de boa qualidade.
Ao cair da tarde, um acidente quase tornou tragico esse nosso dia, uma das meninas, filha do dono da Selaria e Sapataria que havia perto do Ginasio, afogou-se e quase perdeu a vida.
Nesse Piquinique, incluindo a Janina estavam dois amigos que nunca vou esquecer: Jorge Lourençone e Edmar Basso, que infelizmente não estão mais entre nós.

Tambem participei de uma excursão à Praia de Caiobá, no final de 1967, após nossa formatura ginasial. Passamos por Curitiba, e na volta por Vila Velha. Embora sem compartilhar das atençoes da Janina, ela sempre estava acompanhada e disputada.

Ainda fizemos o Cientifico juntos, e a partir de 1970 tomamos rumos diferente. Depois disso, vi a Janina em 1985, acho. Conversamos um pouquinho  dentro de  um  supermecado em Cianorte.

Quase 40 anos depois, em Janeiro de 2008, na festa do reencontro AMIGOS PARA SEMPRE, vi a Janina,  jantamos todos juntos e ainda fomos dançar...

Curiosamente, hoje ao sair do trabalho, por voltas das 17:00hs passei na padaria, comprei pães franceses ainda quentinhos, e me veio a mente uma vontade de comer sanduiche de mortadela. Tinha Cerati, (a melhor), então comprei 200 gramas e fui para casa. enquanto saboreava, lembrava do piquinique. Liguei meu PC, assessei o Blog e me deu uma vontade incontrolavel de escrever....

Janina, preciso vê-la novamente...

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