quarta-feira, 21 de outubro de 2009

MARIA APARECIDA PARISOTTO LUCAS

MARIA APARECIDA PARISOTTO LUCAS


Da minha trajetória por Cianorte tenho grandes lembranças...

O parquinho perto da Igreja Matriz, aonde ia livremente brincar com meus amiguinhos e primos e que, em muitos dias, recordo-me dos banhos de chuva, das corridas nas enxurradas de água vermelha, dos banhos de bica na prainha, dos piqueniques aos domingos na barranca do rio Ligeiro e demais rios da redondeza, regados a guaraná “gold-scrin”, grapettes, “crush”,
cerejinha e tubaína; do pão feito em casa para os sanduíches de mortadela e dos sonhos de creme amarelo do Colégio das Freiras. Lembro-me daquele doceiro que ficava na porta do colégio, na hora do recreio, para vender quebra queixo, martelinho (doce cor de rosa, que nunca mais vi em lugar algum), picolé de groselha redondo e casquinha de biju torradinha de cheiro muito peculiar. Da Escola Evangélica lembro-me das histórias contadas no auditório, naquele painel de feltro verde com aquelas figuras ilustrativas, que se moviam pelas mãos ágeis de Miss Karol e me levavam para um universo de imaginações e fantasias; das filas com a mão no ombro do amiguinho para manter distância, em absoluta disciplina, para cantar o Hino Nacional e o Hino à Bandeira; dos desfiles de 7 de Setembro; das quermesses, com aqueles leilões que eram oferecidos pernil de porco, frango assado com recheio de miúdos na farofa, bolos caseiro e aquele som gostoso do leiloeiro:
-Quem dá mais?...Dou-lhe uma...Dou-lhe duas...

Das festas juninas me recordo do dia 23 de junho de 1969, quando houve festa na casa da Cidinha Loreto. Loucamente, andei descalça sobre as brasas incandescentes da fogueira, incentivada pelo meu pai. O mais interessante foi que realmente não queimei meus pés.

Que dias maravilhosos!!!

Época das brincadeiras dançantes no Grêmio, no Clube Português, no Clube G.E.M.A e no Clube Japonês. Quanto à missa aos domingos: esperávamos ansiosamente seu final para, como numa procissão, irmos (meus amigos e eu) à Socimara Discos e em seguida encontrar outros amigos na praça. Assim era o ritual de todos os domingos. Claro que as matinês no Cine Cianorte eram imperdíveis: Tarzan, Mazaropi e “bang bang” americano, que fazia a molecada pular na cadeira enlouquecendo o pobre do lanterninha.
Um pecado que eu cometia era pegar o fusca do meu pai escondido, lotar o carro com a galera e fazer cavalinho de pau na esplanada, que loucura!!!
As competições esportivas, sempre organizadas pelo professor Albino Turbay, no Ginásio Cianortense, no Colégio Estadual de Cianorte, no La Salle e os jogos da primavera, sem deixar de lembrar das fantásticas gincanas. Como eram bons, também, os badalados bailes no Cianorte Clube e as encantadoras serenatas.

Nas televisões (preto e branco), colocávamos papel celofane nas telas para que as imagens ficassem coloridas, mas ficavam apenas verdes e achávamos isso o máximo! Meu confidente era um pé de mamona( meu amigo, inspirada no livro “Meu Pé de Laranja Lima”), que ficava no fundo do quintal do Mercadinho Caçula, que era dos meus pais Erasmo Parisotto e Zunilde Moretto Parisotto, onde vivíamos juntos com meu irmão José claudio Parisotto. Quantas vezes compartilhei com este amigo histórias de uma paquera, um flerte ou uma paixão confusa e secreta.

Hoje revirando meu diário, que escrevia na época, me deparo com relatos como o primeiro dia em que o homem chegou à lua, 20 de julho de 1969 um domingo. Estávamos eu, Terezinha Códolo e a Telma, aguardando a Cátia
chegar de viagem, e ficávamos olhando para a lua crescente, que iluminava o breu do céu e, extasiadas, deixávamos fluir, com suspiros, nossa imaginação.Histórias, que as lendo nesse momento, me transportam para a época com descrições que afloram em mim um sentimento agradável e prazeiroso, ao ponto de me emocionar ao vivenciar estas lembranças com exatidão agora. Assistimos ao vivo a primeira transmissão de televisão em cores e o Brasil ser Tri-Campeão do mundo de futebol em 1970. Foram grandes as comemorações do título, com desfiles de carro pelas ruas da cidade, abraços e rostos com sorrisos largos, espalhados por todos os lados.

Casei-me com Félix, aos 17 anos, ainda em Cianorte. Formamos uma turma de amigos. Eram casais recém-casados como nós, e podíamos compartilhar experiências comuns. Deus nos premiou com a vinda das nossas filhas: Estella, que nasceu em Cianorte; Daniella em Belém do Pará
e Isabella em Guaíra no Paraná. Por motivo de trabalho, vivemos uma peregrinação por lugares distantes deste imenso país, mudando inúmeras vezes de casa e cidade. Finalmente nos mudamos para o nordeste. Em Maceió voltei a estudar, fiz minha formação acadêmica em Psicologia Clínica. Anos depois, Félix e eu decidimos nos separar, mas conservamos até hoje grande amizade, o que resultou em um relacionamento saudável com nossas filhas. Aqueles foram momentos difíceis para toda nossa família.
Morei então um tempo na Europa vivendo situações jamais imaginadas, de amor e de dor, mas acabei realizando um grande desejo: conhecer vários países. Tinha, ainda, um sonho que guardava dentro de mim e consegui realizá-lo anos depois. Fiz o Caminho de Santiago de Compostela, andando 800 quilômetros a pé, entre a França e a Espanha. Foi como assistir vários filmes da minha vida. Uma guerra de fantasmas internos, conflitos, medos e conquistas, que vieram à tona num período de 30 dias de caminhada, passando por arquiteturas diferentes, campos, lugares e vegetações distintas.

E havia chegado o momento que tinha que ser provedora de mim mesma. Mas como? Não tinha nenhuma experiência. Nunca havia trabalhado fora, pois até então era dona de casa e nessa função não se tem salário, férias, décimo terceiro e nem aposentadoria.

Certa noite saí caminhando pela praia, sem ter muita noção de mim e em lágrimas implorei ao Sagrado que me apontasse uma luz, um caminho. Logo tive uma intuição tão forte que tomou conta de mim e uma vóz lá de dentro me disse: “você vai fazer bolsas”. Novamente pensei: como? Se não sei colocar linhas no manejo da máquina. Fui para casa e não me deixei esmorecer. Desmanchei um nécessaire e a usei como molde. Como não tinha dinheiro, comprava o material de metro em metro e fazia a bolsa para vender para uma e outra amiga. Trabalhei muito em casa, até o dia em que resolvi alugar um espaço e constituir a pessoa jurídica. No momento de escrever o contrato, o contador perguntou-me: “qual será o seu pró-labore?”ao que respondi: “o que é isso?” E mesmo sem nenhum conhecimento não desisti.

Hoje, tenho vários colaboradores, sou movida pela responsabilidade de ser provedora de mim e indiretamente de muitas famílias. Compreendi que só
se aprende fazendo. Sinto uma grande satisfação por ter uma empresa estruturada e por ter recebido o prêmio SEBRAE “Mulher empreendedora” entre vários outros. Creio que esta estrutura pessoal veio da forma como fui criada, numa terra de gente de valor, de conceitos e base sólida, da minha cidade de Cianorte e meu Paraná querido.

Quero deixar registrado aqui meu profundo agradecimento aos amigos da infância e adolescência – amigos para sempre. Dizer que no Caminho de Santiago vi-me em pedra bruta quebrando para ser lapidada. Lapidando-me dos musgos, das couraças utilizadas de maneira consciente ou inconsciente e que na longa caminhada da vida encontrei pessoas homogêneas e heterogêneas. Tomei chuva, me molhei de orvalho, senti o cheiro da terra fria, andei, viajei, senti alegria e dor, chorei e rezei, e hoje estou diferente...
Continuo morando em Maceió – Alagoas, no nordeste brasileiro, com minha mãe. Minhas adoradas e amadas filhas: Estella está morando em Itapema – Santa Catarina; Daniella em Toronto no Canadá e Isabella em Boston nos Estados Unidos. Ainda não tenho netos.
Agradeço a Deus todos os dias por estas filhas corajosas, maravilhosas e guerreiras. Pela Internet, me comunico com elas quase todos os dias. E que neste reencontro dos amigos para sempre , eu possa abraçar um a um. Amigos que mantém acesa, em minha mente, a chama da alegria de viver.



Beijossssssssss

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